Você e seu filho precisam saber!!!!



Eu nunca tinha lido um depoimento tão detalhado e chocante como o de Mary Kozakiewicz, mãe de Alicia, uma jovem que, aos 13 anos, foi seqüestrada, torturada e estuprada durante quatro dias por um homem que conheceu pela internet. Alicia fugiu de casa para um encontro que virou seu grande pesadelo. Um homem de 38 anos, que julgava como amigo, era um maníaco. Alicia foi salva por agentes do FBI. A tragédia, há oito anos, deu origem ao Alicia Project , uma bela iniciativa de sua família para transformar o trauma num exemplo para alertar outros jovens a não cair na mesma armadilha. Eles rodam escolas e universidades nos Estados Unidos, numa conversa franca (e chocante) sobre o perigo dos contatos estabelecidos no mundo virtual.

Como mãe, imaginei o horror de Mary, mãe de Alicia, sentada, sem poder fazer nada, enquanto a polícia procurava sua filha. Sempre vi com muita cautela os contatos no mundo virtual e, confesso, reajo com certo assombro à facilidade com que as pessoas se expõem na internet, especialmente os jovens. Estabelecem redes de amigos, em que muitas vezes conta mais a “quantidade” do que a “qualidade”. Falam muito de si, da própria rotina. Mostram fotos, às vezes íntimas, esquecendo-se, de repente, que, além de impressionar os amigos, falam também com interlocutores cheios de más intenções. Não gosto dessa exposição. Não participo de redes sociais na internet. Quando posso, alerto meus sobrinhos adolescentes sobre os riscos desse negócio, um progresso dos tempos modernos que lança as crianças, cada vez mais cedo, num mundo sem fronteiras. Nesse espaço ilimitado que se abre a partir da tela de um computador, a boa e velha estratégia de se perguntar “onde estão meus filhos agora, com quem estão e o que estão fazendo” não vale.

Adolescentes têm segredos, julgam-se a salvo dos perigos do mundo, confiam demais no próprio julgamento. Eu fui assim também, embora tenha sempre agido dentro de limites muito claros estabelecidos por meus pais. Sem falar, é claro, que eu não tinha a internet para navegar à vontade. Penso nas minhas filhas, em que mundo estarão quando chegarem à adolescência. Como impedir que elas me olhem como se eu fosse um ser de outro planeta apenas por alertá-las sobre as pessoas mal intencionadas. Uma providência eu considero boa: computador, só num local onde todos podem ver o que o outro está fazendo. Diante dessa (cruel) realidade, deixar que a criança navegue à vontade no seu quarto é o mesmo que permitir que ela viaje por aí sozinha, sem a companhia de um adulto responsável.

Os esforços de Alicia têm sido reconhecidos mundo afora com prêmios, documentários e fóruns. ransformar a dor em ação não é para qualquer um. Alicia, uma jovem bonita e tímida, ainda sofre com insônias e tem lapsos de memória, num mecanismo involuntário de autoproteção. Ela estuda Psicologia na Universidade de Pittsburgh. Seu sonho é virar agente especial do FBI para impedir e salvar outras crianças da mesma situação. Leiam o que diz a mãe de Alicia (em inglês). ”Você acredita que seu filho não está sendo imprudente”, diz Mary, mas está. “A criança que retorna para você depois de uma experiência como essa não é a mesma que saiu”, escreveu Mary, para o Times britânico. Nem tem como ser. Conheçam essa história. Passem adiante. Ela pode salvar vidas e sonhos.

  • Abaixo, trechos em português do depoimento da mãe de Alicia.
Era Ano Novo. Começava 2002. Tivemos uma ceia de família. Quando eu estava tirando os pratos para colocar na mesa a torta de maçã, Alicia disse que não se sentia bem e subiu as escadas. Eu disse: “Tudo bem, pode ir”. Mais tarde, quando ela não respondeu a meu chamado, pedi ao irmão para ir até lá. Ele falou: “Ela não está no quarto”. Tinha sumido assim, de repente. Eu nunca tinha me preocupado com o uso que Alicia fazia da internet. Ela tinha 13 anos, e embora ela ficasse no computador algumas horas por dia, todas as crianças em Pittsburgh ficavam. Eu dizia: “Sai, brinca um pouco”. Mas aí ela me mostrava a tela do computador, e todos os amigos estavam conversando entre si. Nós achamos que ela estava segura. Crianças pararam de ler livros, e agora escrevem coisas online, fazem o dever de casa online. Têm perfis onde incluem seus objetos favoritos e uma foto. Nunca imaginamos que ela pudesse sofrer algum dano por isso.

Alicia era tímida, não saía muito na rua, não havia nenhuma casa para onde pudesse ir na noite do Ano Novo. Era um dos dias mais frios do ano, gelado, nevava e estava escuro. Fomos ao jardim, ao porão, e finalmente chamamos a policia. Eles disseram: “Ela estará em casa de manhã, provavelmente está com amigos”, e foram embora. É surreal, você é transportada a um outro estágio de consciência, porque não há resposta. Você se senta no escuro e se sente impotente. Nenhum alerta. Nenhum sinal de arrombamento. Ela não levara nada com ela, nenhum casaco, nenhuma bota. O dinheiro que ganhara de Natal ainda estava em sua penteadeira.

Eu era dona de casa, meu marido era vendedor num escritório em que pessoas começavam a trocar e-mails e havia as lendas dos predadores da internet, foi ele quem suspeitou primeiro. E estava certo (…) Na aparente segurança de seu quarto, minha filha tinha conhecido um homem de 38 anos online, um programador de informática de Hendon, Virginia. (…) Depois soubemos que era divorciado. A filha tinha acabado de passar o Natal com ele. Tinha a idade de minha filha. Deixou a própria filha no aeroporto e foi pegar a minha na minha casa. Sua intenção era transformá-la numa escrava sexual. (…) Ela ficou refém dele num porão, ela a estuprou, abusou dela, bateu nela, a torturou, e a manteve acorrentada com uma coleira de cachorro no pescoço. Só a encontramos porque ele havia mostrado um vídeo seu com minha filha para outro tarado. Mas o amigo chamou o FBI, por achar que o sequestrador iria matar minha filha e ele não queria ser acusado como cúmplice por ter visto o vídeo do abuso.

No dia 5 de janeiro, o FBI entrou na casa onde ficava o cativeiro. Até então, eu tinha parado de comer e dormir. Recebi uma ligação do FBI e meu medo era que me chamassem apenas para identificar minha filha, porque 75% das crianças raptadas são mortas nas primeiras três horas.

(…)


Alicia hoje descreve a internet como talvez o maior experimento social de todos os tempos mas no qual as crianças podem ser sacrificadas como cobaias. Eu uso a analogia de uma arma carregada. Ninguém nos advertiu sobre isso mas passaram a nos culpar quando as crianças começaram a matar e ferir umas às outras”.

 
ISTO NÃO É FICÇÃO. FIQUEM ATENTOS!

Texto: Isabel Clemente - globo.com
Matéria: Revista Época
Foto: globo.com




Beijos a todos,

Meg
5/11/09